quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Egrégora

Separação de DDGS na usina em Portales.
Quando morava por alguns meses nos EUA, passei a maior parte do tempo em uma pequena cidade chamada Portales no Novo México. Lá há uma usina de etanol de milho onde eu trabalhava no setor de produção e controle de qualidade. Trabalho duro e em condições interessantes: -10°C durante as madrugadas e +15°C durante as tardes. Turnos de 12 horas durante 4 dias/noites e 3 dias de folga. Nesses dias ociosos, pegava o carro e rodava a única fita K7 que tinha: Social Distortion. Acabava rodando até o Texas ou ia até Roswell para rir com as luminárias dos postes da cidade pintadas como extraterrestres. Certo dia, enjoei da estrada e resolvi ganhar uma grana extra. A convite de um operário, fui trabalhar como latoeiro de carro na cidade de Clovis. Era o ápice do inverno e minhas mãos congelavam (mesmo) quando molhava a lixa na água do balde. Nessa oficina, um evento me chamava a atenção todos os dias logo cedo: abraçados, orávamos para agradecer por mais um dia de trabalho. Em determinados instantes era possível perceber que uma força positiva tomava conta de todos. Quem me conhece, sabe que não sou um exemplo na religiosidade. No entanto, passei a acreditar desde então na egrégora formada pelo coletivo. Aliás, anos mais tarde notei que tal prática não era exclusividade daquela “oficina”.
Abraços!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O número 9

Quando se fecha um ciclo na vida, é hora de pensarmos o que aquilo que passou significou. Outro dia escrevi a respeito de como o ser humano precisa viver certos rituais. O fato de cantar parabéns em uma festa de aniversário é um deles. A comemoração é boa, claro, entretanto está se evidenciando um ano a menos de vida. Mudando de rumo, no primeiro dia deste ano eu lembrei que a soma da minha idade cairia justamente no número 9. Mesmo não sendo um conhecedor da numerologia, andei lendo brevemente a respeito deste numeral em um lugar que, segundo consta, é justo e perfeito. Quem pensa que o número é de todo bom, está enganado! Cheguei a ler que finalmente o número 9 é relacionado ao mal supremo. Por outro lado, li que é o número da luz e me animei, porém Lúcifer adiante foi citado no texto e novamente fiquei surpreso com a levianidade do manuscrito. Enfim procurei algo mais positivista e finalmente encontrei que o 9 representa muitas coisas boas como o do caminho árduo (e inatingível) em busca da perfeição. Em resumo, notei que a diferença dos textos justamente residia em um pensamento pronto e baseado em crença pétrea contra algo mais complicado feito para a reflexão. Enfim, realmente me parece, como último numeral, representar o fim de um ciclo. Por falar em números, meu pai andou aparecendo em algumas noites em sonhos me passando alguns números. Estes eu anoto e não comento, pois mesmo faltando alguns, podem ser os da mega-sena... Abraços!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Apelidos

No último relato, prometi que iria contar a história dos apelidos lá de casa: Tico, Saddam e Azeitona. Resolvi escrever hoje mesmo porque minha mãe relembrou da chegada do azeitona lá em casa. Aqui vai! Em Dezembro de 2010 minha irmã foi correr logo cedo em um parque aqui da cidade. Ao chegar em casa, havia dito à minha mãe que tinha uma surpresa. Ela havia encontrado um labrador abandonado. Quando cheguei mais tarde, me deparei com um cão magro e judiado junto do meu pai. Eu nunca tinha visto um daquela cor. Outro detalhe me chamou a atenção nele: os olhos, ou melhor, o olhar. Quem o conhece pessoalmente sabe do que falo. O Saddam (meu pai) nunca foi grande amante de cães. No entanto, a partir da descoberta do câncer na Nina ele passou a ter adoração. Inclusive ele foi quem a levou nas sessões de quimioterapia. Com o Azeitona não foi diferente. O figura não comia ração de modo algum. Meu pai com preocupação preparava arroz com frango todos os dias e misturava aos poucos a ração. Algumas outras atitudes me deixavam boquiaberto: as remelas dos olhos eram limpas todos os dias, fogão à lenha aceso nos dias de frio, cama feita e muito agrado. Tudo obra do velhão para quem ele chamava de “rapaz”. Pois bem quando o papai passou adiante, o Azeitona ficou esperando-o durante uma semana na beira da escada. Aí, explico o nome do cachorro que na verdade é Oliver. Originou de um romance do Charles Dickens de 1838 “Oliver Twist” que relata as aventuras de um rapaz órfão que infortunadamente viveu de modo miserável em Londres e que ao final descobre a nobreza de sua origem. É engraçado como a ficção se mistura à realidade. Acabei não explicando nada dos apelidos mas não faz mal. Afinal, o Azeitona merece um espaço só pra ele. Abraços!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um dilema.

“Eita cara mais chato que não pára de falar sobre a morte do pai.” O que eu posso fazer? O caso é que pra minha felicidade eu tenho o velho cada dia mais presente na minha mente. Explico! Sempre que vou fazer algo penso se o Saddam (apelido do Seu Luiz) iria ficar feliz por ver. Evidentemente os pais querem a felicidade dos filhos, logo, acabo tendo uma alegria a mais por realizar coisas que o pai sentiria algum bem estar por saber. De alguma forma, sou crente que ele sabe. Acontece que ontem decidi levar minha mãe almoçar fora. Detalhe: no restaurante preferido dele em Santa Felicidade. Pensei por alguns instantes em não ir uma vez que aquele evento iria remeter ao passado e poderia causar algum desconforto mais forte na cabeça do Tico (minha mãe). Vivi um dilema. Ao chegarmos, o garçom nos viu e ficou visivelmente emocionado – na mesma hora, minha mãe. Na mesma hora fiquei sem ação: não havia programado uma situação triste. Bom, fiz questão de pegar a mesma mesa em que ficávamos e o almoço foi bom demais. Até o dono do lugar ficou um tempão conversando conosco (uma pessoa fora de série). Ao final, percebemos que o pai estaria feliz por estarmos curtindo o lugar como ele fazia. No caminho de volta, a mesma coisa, fomos lembrando das coisas e caminhos justamente que o Seu Luiz costumava fazer. Funcionou como terapia. Todos os dias quando acordo, lembro do pai. Certamente isso não acontecia quando ele estava presente fisicamente. Ouvi muita gente me dizer, nesta fase de luto, para ter apego a coisas que gosto. Por que esperar pra fazer isso? Bom mesmo é tocar o terror em vida. Papai deve estar orgulhoso! (rsrsrsrs)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Uteísmo e a grande lição


Quem morou em Curitiba nos anos oitenta e se lembra dessa época, certamente vai recordar do Parque Alvorada. Ficava bem próximo do Passeio Público. Dessa época lembro que quando menino ainda esperava a semana inteira para ir com o meu pai passar a manhã nos dois lugares. Íamos no Parque onde o carrinho bate-bate rendia risadas de um homem que via em seu filho a sua própria imagem. As manhãs invariavelmente eram encerradas no Passeio Público com pastéis fritos na hora vendidos em porções (os palitos eram bipartidos em uma das pontas). Hoje pensei nisso: quanta saudade! Logo em seguida, fui aliviado por pensar: “ao menos tenho um bom passado para poder lembrar”. O tempo passou e muitas coisas boas, obviamente ruins também, foram acontecendo a todos, inclusive a quem está lendo isso agora. As melhores impressões e lições vêm de grandes homens. Meu pai foi uma pessoa marcante e isso era visto até mesmo em seu aperto de mão e nos conselhos. Em dezenove dias, experimentei a felicidade da esperança e a dor da perda deste grande ser. A sua última lição presencial, me foi dada de um modo um tanto inusitado. Quem passa um certo período dentro de uma UTI de hospital corre um sério risco de sofrer alucinações. A este fato alguns médicos chamam de “uteísmo”. Pudera: imagine passar dias a fio quase sem se mexer e sem ter noção do que é dia ou noite. Pois bem, nesta última semana, em uma das rápidas visitas permitidas, o pai apontou com o indicador e médio juntos para as lâmpadas da foto (exatamente no ângulo em que foram tiradas) e me disse: “Olha ali filho, são dois cachorrinhos bem bonitos, um branquinho, um marrom e um carneirinho. Tadinho, olha como está magrinho o carneirinho”. Confesso que virei o rosto pra não chorar na sua frente. Me segurei pra não perder tempo de visita de 15 minutos. Sem pensar concordei na hora e disse: “pai, realmente eles são muito bonitos”. Eu sou sincero em dizer que não sei explicar direito. A calma dele me mostrava que ali estava a última lição. Já sinto a presença do meu lado, meu velhão! Por isso,dessa vez, não me despeço.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Massa crítica


Dedico este texto a uma conversa mais que especial que tive nesta semana. Ouvia falar em massa crítica há muito tempo. Sempre entendi que isso seria uma reação em cadeia de algum grupo de pessoas levadas por um mesmo nível de consciência. Contando que isso pode ser algo inusitado, no ano passado talvez eu e o pessoal do Hidromel Valkiria (eu, Tiago e Nérso) vivenciamos uma experiência no mínimo “thrash”! Em Dezembro viajamos à Santa Catarina para tratar das questões da empresa. Pouparei tempo de leitura mas relato que simplesmente fizemos zona do começo ao fim da viagem, inclusive durante as reuniões que tínhamos. Na verdade não poupávamos uns aos outros e nem as terceiras partes. Pois bem, por indicação de uma vinícola, fomos até uma gráfica em uma cidade do interior. Chegando lá, todos nós percebemos que o dono da Gráfica curtia uma bagunça como nós. Pois bem, no meio da reunião ele apresentou um rótulo com uma cola violenta. Não tive dúvidas, colei no braço do Tiago pra ver ele se ferrar na “depilação”. Isso desencadeou um processo que seguiu com cola no cabelo, no braço, na testa e o dono da gráfica entrou na onda. Enfim, éramos quatro moleques nos divertindo nas custas do sofrimento alheio. Lembro que em um determinado momento cheguei a não conseguir respirar de tanto rir. Atualmente é a gráfica que produz nossos materiais e o dono ficou com nosso respeito absoluto. Tirei duas lições: 1. É vantajoso trabalhar com quem tem seu tempo de diversão e demonstra confiança nisso. 2. Para desencadear a massa crítica, basta um toque de boa ou má intenção em um grupo que precisa apenas de um motivo. Abração!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Na Baiúca (Parte 2)

Todo piá tem mania de destruição bem como eu já contei aqui. Relembrando, acho que acontece mesmo um inconformismo de ver algo em ordem e bem cuidado. Mais um episódio desta natureza aconteceu na Baiúca. Aqui vai mais um breve descrição do lugar: galinha, ganso, cachorro, sapo, gato e sim!!!!! Eis que havia um impecável milharal cercando a casa em que morávamos. Na época a faca “corte laser” com cabo de plástico quando foi lançada e minha mãe comprou uma. Pois bem, era uma passada, um pé de milho no chão: uma moleza! Havia um pé de ameixa amarela que fica há uns 50 metros da casa e a minha primeira obra foi abrir uma “clareira” até lá, pois eu havia pendurado uma balança feita com pneu. O fato é que na minha cabeça aquilo tudo deveria ir ao chão. Levei umas duas semanas e botei toda a plantação do seu Flávio no chão. Uma verdadeira obra de um capeta em forma de guri! Resultado: passaram-se dois dias e ele chegou na nossa casa com a conta do prejuízo estimado. Fico por aqui pra não descrever a surra que levei! Nem merecia, né?! Abraxxx

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sensação impagável (parte 1)

Meu primo Osvaldo foi um dos primeiros caras que vi surfar. Lembro que meus tios tinha casa próximo do pico de Matinhos e ele sempre estava lá. Na verdade, ele foi um grande incentivador para que eu pedisse a primeira prancha ao meu pai. Era verão de 1985, eu tinha uns 9 anos de idade e fui com meu pai e com ele comprar uma prancha usada. Lembro de ter ido nas saudosas lojas da Crespo e na Ilha do Mel. Lá na Ilha, achamos uma prancha biquilha shapeada pela lenda viva Daniel Friedmann e foi aquele lance: “é essa!”. Já colei antiderrapante da Astrodeck qeue mais tarde iriam “comer” meus joelhos. Mal esperava pra poder entrar no mar. Infelizmente meu primo não acompanhou a estréia. Por sorte, havia uma turma lá em Monções que já pegava onda há um tempo: Gerson, Diogo, Abobrinha, os irmãos Maranhão, Saulo, Edo, Didi, Guilherme Balão e alguns outros que peço desculpas por não lembrar. Boa parte está na foto tirada em 1986 ou 1987. Fui sortudo por poder contar com o incentivo deles pois eu lembro que foi um parto aprender até mesmo a remada: coisa de “prego” mesmo. Todos esses caras têm minha admiração vitalícia. No entanto, o mais importante pra mim era simplesmente estar após a arrebentação e aguardar vir alguma merreca. Era um período de tempo no qual nós podíamos dar risada, conversar, ver alguém que já estava na onda. O bem estar disso é algo impagável (mesmo). Todas as noites antes de dormir eu lembrava daqueles momentos. Os anos foram passando e a sensação boa de estar ali no mar não mudava. Isso é assim até hoje. Prestei atenção no passar do tempo para ver se iria perder a graça ou iria enjoar. Nada. Pelo contrário, fui ganhando nesse tempo amizades verdadeiras e cada vez podia entender e respeitar mais o oceano. Está tudo como há 25 anos, graças a Deus!

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Corcel do Manoel

O relato a seguir é verídico. Infelizmente não posso expressar aqui a sessão de risadas que o relato dessa passagem rendeu. O fato ocorreu há muitos anos em Santos. Um português metódico, já de certa idade, tinha um automóvel Corcel que mantinha como fosse relíquia, pois realmente era uma jóia em termos de conservação e limpeza. Acontece que um cuidado desse nível incomodava, mesmo que sem sentido, alguns meninos vizinhos do portuga – um deles, um grande amigo meu: o Nérso. Inconformados com o capricho do lusitano, esperaram uma noite e aprontaram uma grande ação. Lambuzaram toda a lataria do Corcel com graxa. Ainda não contentes, passaram por cima um monte areia de uma obra que estava sendo realizada nas proximidades. O Nérso acabou não participando da parte da graxa e pra compensar, juntou cuidadosamente, com auxílio de um papel, um pouco do que um cachorro deixou na grama e passou nos trincos das portas. Resultado: o português chamou a polícia e os meninos foram descobertos porque como diz o ditado: “o diabo faz a panela, mas não faz a tampa”. Todos, exceto o Nérso, tinham graxa embaixo das unhas. Este escapou de uma surra com cabo de vassoura que sua mãe segurava na hora de verificar as unhas. Participou com gravidade e saiu ileso. É assim até hoje - rsrsrsrs!

Abraços pra você, meu Irmão!!!!!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Na baiúca (Parte 1)

Eu não posso dizer que fui um garoto exemplar na infância. Aliás, quem foi exemplar não viveu direito essa fase. Pelo menos é a minha opinião. Graças a Deus fui criado boa parte do início da minha vida em um lugar que havia plantação de milho, criação de gansos, galinhas e outros animais. Em diferentes idades realizei obras nada agradáveis do ponto de vista ético para o mundo adulto. Neste post vou relatar uma das minhas façanhas. Nossa casa, há muitos anos atrás, ficava ao fundo de um supermercado. O dono do local tinha, sem exagero, uns 200 gatos pois tinha precaução exagerada contra ratos no estoque. Eu, que devia ter uns 8 ou 9 anos de idade e minha irmã já tínhamos certa aptidão para a medicina veterinária. Resolvemos montar uma “clínica” pra cuidar dos bichanos. Montamos tudo com rodas de carroça e lonas de caminhão que haviam no terreno do mercado. Fiz o cadastro de uns cinqüenta gatos fazendo ficha com nome, sobrenome (os nomes eram dados conforme cor do pêlo, manchas, etc...), retirava um chumaço de pêlos e colava com fita adesiva no "documento". Ainda, com uma almofada de carimbo conseguia a impressão das patas. Os gatos fechavam o tempo direto e sempre a Ana cuidava deles conforme devia. A verdade é que ela gosta demais de gatos até hoje e eu nunca fui muito fã. Certa vez eu raspei a barriga de um deles e me preparava pra abrir com uma faca a barriga e “ver” o que havia dentro. Curiosidade de criança, não? Sorte que minha mãe viu e na sinceridade relatei a ela a minha intenção. Depois dizem que o ser humano é bom por natureza.

Até a próxima!

Luiz Gustavo